sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Copacabana

É curiosa a brasileiridade que desperta uma vinda à praia.
com cerveja aos cântaros
areia na sunga, areia no camarãozinho
mar sujo em que todos se banham
fios-dentais sustentam grandes bundas bronzeadas
gringos bobos sendo roubados nos quiosques
o meu coração fica até com jeito de bem-me-quer
e as gordinhas realmente são um alvoroço

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Todo carnaval tem seu fim

viviam a teatrar no carnaval
os nomes não se lhes importam
teatravam na imensidão dos carnavais através dos séculos
desde Veneza teatravam
só teatro?
não
esse era o problema
que por trás das máscaras triste e feliz,
por trás dos nomes Pierrot, Arlequin e Colombina,
jaziam paixão, culpa, amizade, felicidade, tristeza e
uma infinitude de outros sentimentos
em suma
o Arlequin sorri,
a Colombina ama,
e o Pierrot chora.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Obituário

Morreu nesta quinta-feira, 23 de dezembro de 2010, o operário José Francisco das Neves, 42, trabalhador da Souza&Gama Empreendimentos. O senhor José era trabalhador da empresa há 15 anos e fazia todo tipo de obra de construção imobiliária. Era tido como um dos melhores funcionários, de comportamento exemplar. Ontem, entretanto, o senhor José saiu de sua casa no bairro do Grajaú, onde mora com a esposa e os três filhos, e dirigiu-se à obra em que estava trabalhando, na Avenida Ibirapuera, nº1991.
O trabalhador havia trabalhado a manhã toda e, na pausa de almoço, sentou-se com seus colegas no andaime do 22º andar para comer. O operário Severino Monteiro, 28, amigo do senhor José, havia tido seu segundo filho e, para comemorar, levara um pouco de cachaça 51, comprada no boteco ao lado da construção. Após algumas doses da bebida, os funcionários já estavam embriagados e começaram a dançar no andaime.
O senhor José caiu da construção e morreu ao atingir o solo, no meio da avenida. A Companhia de Engenharia de Tráfego - CET imediatamente tomou o controle da situação e interditou uma das faixas da pista da avenida. Houve uma única testemunha, um pedestre que passava, C.B.H., que pediu para não ter seu nome divulgado. A empresa se responsabilizou pelo acidente e a família receberá todos os direitos trabalhistas referentes ao falecido senhor José, além de terem recebido um convite especial do responsável pela obra para irem a um concerto de metais na Sala São Paulo hoje, na noite de Natal.

__,,__

"Amou daquela vez como se fosse a última [...]"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Não me encaixo.
E é só isso.

Realidade [2]

Bem poderia eu viver a realidade. Aquela, de todo mundo. Não a minha. É quase como se a realidade fosse relativa ao observador. Quem sabe não é...
Talvez, com a realidade, eu vivesse melhor. Como se minha vida até o momento fosse tão conceitual que me induzisse a uma não-humanidade.
Talvez seja por isso o let me out of here cantado em backing vocal e quase imperceptível. Talvez eu queira me desconfinar da prisão que me é o meu próprio EU. Talvez por isso os sangrentos desejos de morte. Minha morte. "Morre o homem e nasce o super-homem", diria Nietzsche. Acho que não. Eu quero é matar o meu super-homem. Como disse antes, essa não-humanidade me aflige.
Talvez a minha felicidade seja mesmo isso. O governo não falar por mim e eu ter uma vida quieta. Um aperto de mão de monóxido de carbono.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu só aceito com uma condição

- Eu te falei, não te falei? Falei que ia dar tudo errado. Você não me ouve. Nunca me ouve. Me fere os sentimentos. Viva como eu te digo; qual é o problema?
- O meu problema é que eu sou eu, e não sou você. Se eu fosse você, viveria a sua vida.
- Mas você sabe que pode dar errado se não fizer como eu te disse...
- Você dizer não vai me tirar a responsabilidade de tocar minha própria vida.
- Tá bom, então. Mas eu só aceito com uma condição.
- Qual?
- Te ter só pra mim.
A filha abre a boca, mas a mãe fala antes dela:
- Eu sei que não é assim, mas deixa eu fingir. E rir.

_,,_

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te
Ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vivo

Me parece ridículo, mas...
só escrevo o que sinto
e só sinto o que vivo
e só vivo
simplesmente vivo

Explícito

- Eu preciso te dizer uma coisa. Eu sei que pode soar estranho, é por isso que eu te trouxe aqui pro canto sem ninguém perceber. O fato é que eu gosto de você. É. Simples assim.

E a partir daquele ponto, o garoto divagara infinitamente à noite, em sua cama, porque sabia que qualquer resposta que ele colocasse na boca dela tinha uma possibilidade de existência, mas também sabia que sua impotência em prever o futuro não o ajudaria a saber o que ela falaria e essa dúvida o levava a uma angústia incrível.
E a garota? Nem se importava e vivia sua vida normalmente.

Algumas imagens assombram a minha mente

Queria eu ter esse toque suave
esses sorrisos (para mim)
recheados de terceiras intenções
esses dedos nos meus
a alegria de estar comigo
...

O momento do tiro

Despetale as flores de sua vida
Rasgue sua própria carne e pele com suas unhas roídas
Fira seus próprios olhos com as imagens que te assombram

Morre, infeliz!, como se nunca tivesse vivido,
porque o morto que já viveu teve história pra contar.

VOCÊ NÃO!
Não tem história, queridinho, não teve amor na sua vida.
Foi capa de estopa, saco vazio que não parava em pé.

Era feliz, era?
Era nada, que inteligência é quase antônimo de felicidade.

Sofre, pobre diabo, porque...
porque...
porque sim, ué.
Quem mandou nascer? O viver é sofrimento.
Sofre! Não tem direito a uma vida feliz, não...
quem te disse isso?

Deixa que eu te olho
e te vejo sorrir

no momento do tiro

domingo, 28 de novembro de 2010

Um Filho e um Cachorro

"Já tenho um filho e um cachorro
Me sinto como num comercial de margarina
Sou mais feliz do que os felizes
Sob as marquises me protejo do temporal

Oh meu amor me espere
Que eu volto pro jantar
Ainda tenho fome

Eu vejo tudo claramente
Com os meus óculos de grau
Loucura é quase santidade
E o bem também pode ser mal

Engrosso o coro dos contentes
E me contento em ser banal
Loucura é quase santidade
E o bem, meu bem, pode ser mal"

Zeca Baleiro

Solução

Poderia encerrar esse blog. A chave dos meus problemas é a diferença. O mundo que não suporta as diferenças e divide os diferentes em castas inalteráveis.
Acontece que eu sou diferente. Isso não só causa dor. Causa uma superioridade machucada. Sou diferente, estou em cima, mas queria ser igual e estar embaixo. O problema do mistério não é a sua solução, mas como colocá-la em prática.

Meu reino por um amor

E me adianta tudo o que tenho?
Bronze, prata, ouro, glória;
mente, corpo, memória?

Me adianta, amor, ter o mundo?
Ter os pés no chão e a cabeça centrada
ter tudo que todos querem
todos menos eu

- Meu reino por um cavalo!, disse Ricardo -
meu reino, minha mente, minha vida
por um amor

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bang, Bang, You're Dead

[cortinas abrem]
(primeiro personagem entra)
sou eu que aqui apareço
ou sou ator, prego a mentira e a beleza contida nela?

(segundo personagem entra)
mas esse pensamento é muito egoísta
quem sou eu, perto do mundo, pra ter o direito de ser egoísta?

(primeiro personagem)
me perco em profusões de pensamentos existencialistas
porque essa é minha vida?

(segundo personagem)
essa é a pergunta de quase todo mundo

(primeiro personagem)
Eu me sinto como se estivesse imitando sempre
mas como se essa imitação me fizesse sentir eu mesmo

(segundo personagem)
Você está perdido, está fora do controle, está cansado o bastante pra pedir pra sua alma descansar para sempre

(primeiro personagem)
Quem vai salvar me alma agora?
Quem vai contar minha história agora?

(segundo personagem)
Você já tentou tudo, menos o suicídio

(primeiro personagem)
mas já passou pela minha cabeça
e eu ainda não sei a resposta, estou apenas chutando
e olhando na direção da arma

(segundo e primeiro personagens)
"O resto é silêncio."

[Som de tiro]
[cortinas fecham]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Resposta

Refletindo, descobri uma coisa sobre mim. Descobri, acho, o objetivo desse blog. Acho que é um jeito de eu me expressar e me libertar das amarras que a minha vida, objetiva e real, mas presa, me impõe.
Mas ele serve, também, para outra coisa. Acho que eu queria mesmo era uma resposta dela. Os versos e frases, as estrofes e parágrafos, clamam desesperadamente por uma resposta. Criptografo tudo pra que meu "eu" se resguarde. Mas o que eu quero mesmo é que todos percebam. E me deem uma resposta.

(Linda) Realidade (Pouco) Objetiva

Às vezes me questiono sobre a objetividade da realidade
Einstein, quando formulou a Teoria da Relatividade, analisou os observadores
Para ele, a realidade é relativa ao observador
E por isso, eu acho, que eu sempre te vejo nas coisas mais lindas do meu dia
as coisas lindas não são lindas por elas mesmas
as coisas lindas são mais lindas
porque você está onde você está
e hoje você está nas coisas mais lindas

Desejos

Curiosos esses meus desejos sobre o tempo
nos dias em que te vejo, quero que ele demore uma eternidade
nos dias em que não te vejo, quero que ele passe como um raio

Amizade

No cenário enfumaçado de um sonho adolescente
All-star's sujos nos pés já cansados
os jeans batidos de propósito, ainda na fábrica
todos jogados nos sofás da vida
abraços intermináveis e uns beijos aqui e ali
- a gente se conhece, qual é o problema? -
se conhecem melhor que qualquer outra coisa
há uns três-quatro anos era coca-cola, agora é cerveja
ainda ligam o videogame quando estão entediados
jogam baralho, e agora tem fichas de poker
nem dizem mais o nome pro porteiro
- opa!, vou ali no 22, beleza? -
sabem dos desesperos mais profundos uns dos outros
assim como sabem cada podre de cada um
mas isso nem importa muito
o que realmente importa é se reunir e fazer com que essa energia
vinda não se sabe de onde, nem quando
(sempre andaram juntos, como não perceberam o tempo passar por eles?)
flua e faça com que cada momento seja inesquecivelmente efêmero...

À noite, as dores se acentuam

"Quando o sol se põe e do horizonte vem se estendendo a noite, alguma mudança se opera dentro da gente.
Aquelas dores que durante o dia ficaram quietinhas, quase esquecidas, vêm, lentamente,tomando seu lugar na nossa consciência.
Então nos tomam as dores de amor, as nossas saudades... As dores dos sonhos não realizados, das mágoas antigas, das desculpas que não pedimos ou que não ouvimos jamais. As dores das loucuras que não fizemos, das paixões que findaram prematuras, dos amores que por algum motivo não confessamos.
Até mesmo as dores físicas dóem mais à noite. É à noite que a febre aumenta. E os pesadelos nos atormentam.
À noite nos compadecemos dos que sentem fome, dos que têm frio, dos que estão imersos na solidão...
À noite, as dores do mundo nos pesam sobre as costas...
E talvez por ser o reduto do despertar de sentimentos que durante o dia permaneceram velados, ela seja tão instigante, tão envolvente. E mesmo doída, continue sendo o momento mais esperado entre o despertar e o adormecer."

PS.: Não é meu o texto, peguei de uma comunidade do orkut.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Férias

Eu queria mesmo era tirar férias
um mês de férias
férias da vida

sábado, 20 de novembro de 2010

Tóxica

Eu estava quase conseguindo me livrar de você. Mas aí você voltou pra dentro da minha vida. Voltou em verde-limão com caveirinhas. Me colocou aos seus joelhos. O curioso é que parece que vai me fazer mal, mas eu não consigo tirar os olhos.
Quase como um gole num drinque do diabo, o próprio. Mas já é tarde demais. Um pouco mais a abstinência já teria passado e eu seria livre. Mas a visão (só a visão!) dos seus lábios me joga numa viagem tresloucada. Sou viciado em você. Você não sabia? Você é tóxica.

Platão [3]

Eu sei que algumas coisas na minha vida são quase imutáveis. Eu minto pra mim mesmo quando a verdade me domina. Como se eu só tivesse uma alça pra me agarrar.
Mas eu criei uma imagem, uma forma universal que pode ser mais forte do que eu mesmo. Quem sabe?!
Se essa forma prevalecer sobre minha teimosia e orgulho absurdos, além do meu medo, aí sim. Aí eu terei minha única exceção.

Indivíduo Escatológico

E a minha vontade agora era de escrever algo escatológico. Acho que pra mostrar aos outros que tenho corpo, talvez. Que não sou só alma-essência de mim mesmo. Que não me limito às ideias que defendo tão arduamente quanto as abandono no momento em que as descubro falsas. Falsas!, não boas ou ruins, lembremos sempre.
Algo que envolvesse sangue e catarro, cortes a faca de carne e frieza de atitude. Quase um anti-eu. Um corpo sem mente. Sem individualidade. Massa de manobra, carne moída gritando que não quer mais educação, nem sarcasmo nas salas-de-aula.
Normalmente não escrevo reflexões em prosa e prefiro metaforizá-las em patos ou poesias abstratas. Mas hoje não. Hoje quis dizer quem sou com todas as palavras. É como se normalmente eu escrevesse as coisas para um seleto grupo que fosse me entender. Mas, repito, hoje não. Hoje sou eu com todo o meu vocábulo explícito, sem-vergonha. Acho que a escatologia de hoje está nisso aí: dizer quem eu sou pode ser nojento para a maioria das pessoas.

PS.: Outro dia tive um sonho. Sonhei que gritava verdades para que todos pudessem ouvir. Ao acordar me senti mal. Ninguém se interessa pela verdade.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Rapsódia (Boêmia) da Lagoa

Era uma vez um patinho
patinho normal
de aparência normal
o patinho, entretanto, não sentia como os outros patinhos
o patinho sentia o contrário dos outros patinhos

E a dor do patinho era grande
"Dona Pata não vai me aceitar"
o patinho partiu para uma atitude drástica
e a dor do patinho, depois de tudo,
cicatrizou

O patinho depois foi encontrando outros patinhos como ele
e as noites secretas o levavam aos cantos mais escondidos da lagoa
onde se podia ser como se sentisse, sem estigmas
mas a sombra de não ser como os outros ainda o encobria
porque ele ainda não via sua diferença como boa

Mas ele ainda vai ver que o bom é ser diferente
e os iguais é que estão errados de somente ter a si próprios como certos

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

FIM

qual seria maior prova de amor,
mútua prova de amor?
o abdicar da vida pelo outro,
pela infinita presença, eternos abraços, infindáveis sentimentos,
literalmente.

__,,__,,__

"Deixa o moço bater,
que eu cansei da nossa fuga"

sábado, 9 de outubro de 2010

Saudades, passarinho

Que saudades, passarinho.
Saudades da sua boa cara
quanto pesar, quanto carinho
Pessoa de alma tão rara.

Você, tão bom pássaro entre os que cresceram
Levado tão cedo nos ventos do destino
Deixará lembranças entre os que te conheceram
Deixará saudades entre nós, Cristino.

-"-"-

Psicótico Tresloucado

Estava no banho quando (entra silencioso, mãe,évocê?, psicótico tresloucado)
Irmã no quarto, violão na mão (escada silencioso, mãe,tátocandoviolão?, faca na mão sem manteiga no pão)
Mãe na cama, 7º sono (camisa vermelha, mãe,eutôsujo!, sangue depois de seco preto como a morte)
(Invade o quarto, imobiliza a garota, minhanamorada,quesaudade!) Irmã no quarto, pânico nos olhos
Estava no banho ainda quando (amordaça, tira a roupa, namorada,lembracomoeragostoso?)
Irmã desespero, nem namorado nunca teve (quegostoso,comonosvelhostempos, silenciosa cópula)
Mãe na cama, 8º sono já (namorada,nãogostomaisdevocê, faca afiada, corta como fosse manteiga)
Irmã na poça de sangue (cadêamãe,hein?)
Mãe dormindo, já no 9º sono (oimãe!, faca pescoço - pele, gordura, carne, veia jugular - sangue brota)
Mãe nunca nem acordou
(ouve o banho, nemgostodebanho.vouembora, sai silencioso, sangue molhado vermelho ainda, nem aparece na escuridão da rua)
Estava no banho quando
me desesperei com minha imaginação

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Guardanapos

Tenho um sério problema com
guardanapos
Me enojam os
guardanapos
"Eu sei a verdade sobre os
guardanapos!"
"Tenho em minhas mãos, escrito por sei lá quem, um
guardanapo!"
"Matem aquele povo! Está escrito no
guardanapo"
"Me dêem todo o seu dinheiro! Está escrito no
guardanapo"
"Estão vendo como me dei bem? Eu li o
guardanapo"
Tenho um sério problema com
guardanapos
Sujos de sangue, os
guardanapos

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Limites e Fronteiras

Pode existir, nesse mundo real ou virtual
prisão tão apertada quanto a nossa mente
Nosso limite
NOSSO limite
quebre-se ou não
sente-se na poltrona no dia de domingo ou não

As fronteiras que nós nos impomos
que nos impedem de realizar os desejos que nos temos
por causa de motivos que nós inventamos

Um gatinhateamo que não pode ser falado
um teodeioseufilhodaputa que não pode ser dito
um precisosairdaqui que entala na garganta bem na hora H

PRECISO SAIR DAQUI
TE ODEIO SEU FILHO DA PUTA
GATINHA TE AMO

sábado, 2 de outubro de 2010

- Eu sou a pessoa mais ferrada do mundo.

-Não, Greg, eu é que sou.

Era a dura, num Gol branco, um Siena prata e um Jetta

Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente aqui dentro,
apitando e gritando,
Mandando a gente se trocar
pra pagar pelo que nem todos fizeram

Acorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já subindo a escada
de camuflado e megafone na mão,
apito na boca e ar na cabeça.
Quem tava pronto saiu
quem chegou atrasado se deu mal

Se eu demorar três anos,
convém às vezes eu sofrer
mas, depois de algum tempo sofrendo,
tem quem não aguente o absurdo escancarado
e a injustiça autorreafirmativa

Acorda, amor
Pimenta arde e não sossega
Se esquece a modéstia,
o descanso da aposentadoria,
Tudo pelo bem de todos,
pelo bem de todos que não merecem pagar pelo que não fizeram
E por isso, chame, chame, chame sua própria calma
e não esqueça calça, sapato, quepe e a identidade
Não esqueça sua identidade.

O Velho e o Moço

Ele não deixa nada assim
Muda o que tiver que ser mudado
É inteligente, mas prefere parecer tolo e bruto
Grita e faz cara feia
Mas só quer ser pai
Nosso pai
Cansado pai, triste pai, de filhos tão bons e filhos tão-tão ruins
Sacrifica alguns para o desenvolvimento de todos,
porque ele, realmente, se importa
quer-nos bem
os melhores

Ele deixa tudo assim, como era antes de vir pra cá
É vaidoso, sua imagem é tudo
Quando vem a nós, porém,
não sabe dizer o que não tem a dizer.
Mas sente-se orgulhoso, muito orgulhoso
E por isso tenta expurgar aqueles que não o são
E bate, apenas porque apanhou, não pra educar
É filho ainda... um irmão mais velho, carrasco irmão mais velho, burro irmão mais velho
Não sabe medir nem erros e nem acertos
Mas preocupa-se
Quer, também, o nosso bem

E eu?, vou levando assim,
que o acaso é amigo da minha paciência
quando eu falo comigo, quando sei ouvir os outros...

domingo, 26 de setembro de 2010

Ilogicidade Construtiva

Era uma vez um patinho
um patinho muito estranho
nasceu de uma pata normal e de um pato normal
mas era um patinho estranho
era um patinho certo.

O patinho certo fazia as coisas certas
não as coisas bonitas
não as coisas bacanas
as coisas certas.

E os outros patinhos da lagoa começaram a se incomodar
"faça uma coisa ou outra errada, patinho! Tudo que você faz é certo, mas é tão feio."
mas ele era um patinho muito certo.

Até o dia em que ele (re)descobriu uma patinha da lagoa
e fez-se tempestades e trovões, som e fúria
em sua cabeça
porque ele descobriu que não sabia fazer o bem ou o agradável
só o certo

E o patinho, feio, certo, viu-se na situação mais estranha de sua vida estranha
Precisaria deixar de ser o belo cisne de uma ideal lagoa
pra ser o simples pato, bonito, errado e certo, agradável, bacana
um patinho feliz.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Melodia Apaixonada

Poderia a mais bonita canção de ninar
fazer nascer sentimentos?
fazer você por mim se apaixonar;
me livrar de todos os tormentos?

Quem há de saber o poder que tem
o coração que chora e sorri
ao som de uma música que vem
lentamente ao encontro de ti

Desperta, coração, desperta!
que a manhã já nasceu pra nós dois
ouve o som, a melodia esperta,
pra que caia em meus braços depois

Deixa nascer o amor mudo
que as falas só sujam o romance
deixa a melodia falar tudo
deixa o verão ao nosso alcance

Mantenha sempre vívida a atenção
nos vai-vens do violino, do piano
e vai perceber simples paixão
um dizer (quase sem rima): Te Amo.

domingo, 19 de setembro de 2010

Paixão de Palco

Ele e ela sempre trocavam olhares apaixonados. Diziam frases apaixonadas. Beijavam-se apaixonadamente. Abraçavam-se apaixonadamente. Gostavam um do outro se uma forma que é praticamente impossível de se relatar, sendo mais fácil mostrar ao espectador usando a linguagem corporal e os movimentos e olhares, repito, apaixonados. E, depois de tudo isso, eram aplaudidos de pé. A platéia se levantava instantaneamente após o fim da peça e as luzes acendiam-se para que fosse desfeita aquela magia momentânea do teatro.
Mas, nas coxias, nos camarins e nos encontros para ensaio, há uma paixão não-encenada. Uma paixão verdadeira. Não o reflexo imperfeito de um autor de peças no auge de sua carreira. Uma paixão que se deixava agir nos palcos, disfarçada de atuação impecável. O sentimento era mais forte que a personagem, que, debaixo do foco de luz, desfazia-se num figurino suado e num homem perdidamente, repito, apaixonado. Homem este que se esquecia dos olhares sedentos por histórias mirabolantes, dos operadores de luz e som e do diretor que torce para tudo correr como esperado. Este homem, livre momentaneamente de sua personagem, canalizava seus sentimentos para o que sempre quis fazer. E o faz, até o fim da cena, quando volta a ser o herói do roteiro do autor em auge de carreira.
Os deuses do teatro diriam: "Pois, matem-no! Está estragando a pureza da arte com sua falta de autocontrole!". Mas um deles, o deus da performance, diria: "Deixa ele. Não há sentimento no teatro que se compare com a vida real.". E os outros deuses continuariam a resmungar, porque os amores não cabem nos palcos. Cabem somente na vida real.

sábado, 18 de setembro de 2010

Malditos Poetas

Poetas. Malditos sejam os poetas. Desvirtuam as palavras de seu significado. Os poetas estão pouco importados com o como-se-escreve e muito com o o-que-se-escreve. Isso não pode permanecer assim. Nós, narradores, sim. Não nos escondemos atrás de máscaras metafóricas para dizermos o contrário do que se quer dizer e, ao fim de tudo, sermos entendidos. Dizemos o sim como sim e o não como não. Não dizemos borboletas: dizemos felicidade. Não dizemos pássaro: dizemos liberdade.
Venho por meio desta questionar até a validade do poeta. O poeta está para o texto como um cachorro está para um quebra-cabeças. O poeta sabe a ordem daquilo, mas prefere embaralhar e nos mostrar uma figura diferente daquela que ele realmente deseja. Não é bem um escritor. Não é bem um literato, o poeta.
Se bem que... o poeta capta bem o que está para ser sentido e não visto. O que está para ser lembrado e não escrito. A poesia da gota de orvalho não se resume a dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Como o poeta não se resume a escritor. O poeta é o Deus das palavras. As toma como quer para o que quer. Mudei de opinião. Benditos sejam os poetas, que, tresloucados, derramam sentimentos nos fins de caderno.

Ei, Shakespeare!

- Ei, Shakespeare! Você tá aí?
- Tô! Por quê?
- Queria falar com você.
- Falar o que?
- Sobre suas peças.
- Que tem minhas peças?
- Como você as faz?
- Não sei. Só faço.
- Como?
- Já se olhou no espelho, e viu dentro dos seus olhos castanhos?
- Já.
- Já achou que tinha mais de você no fundo da sua retina?
- Já.
- Minhas peças são o fundo dos meus olhos.
- Fundo dos olhos? Mas... e se eu usar óculos escuros? Shakespeare? Cadê você, Shakespeare? Droga, minha cabeça às vezes me fala cada coisa confusa. Né, Machado?!

Pimenta na Mente dos Outros é Refresco

Vem como quem não quer nada.
Poucos toques, muita graça.
Cara de criança, jeito de criança.
Pensa como adulto.
Sente como adulto.
E, como criança, despede-se de ser adulto.
Joga para o alto sua maturidade.
Tem oportunidade de ser mais criança.
De ser criança.
Falar como criança.
Mas, às vezes, seu olhar juvenil se perde,
desfoca-se num franzir de testa maduro.
Sem alegria nem felicidade, com introspecção.
É maduro, não é?
Não, não sou!
É sim.
Não sou!
Sou criança!

Pão Bom

Estava eu tomando café-da-manhã outro dia. O pão estava duro, borrachudo. Meu amigo comentou: "que falta me faz um pão bom." É verdade. Um pão bom faz muita falta. O pão bom que falta à maioria das pessoas. Um pão bom.
Um pão bom faz falta. Faz falta poder cortá-lo pra passar uma manteiga boa. Colocar um presunto bom dentro. Tomar um bom café-da-manhã. Ter uma boa manhã. Ter um almoço bom, uma tarde boa e uma noite boa.
Que falta me faz uma vida boa.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Muito Prazer

Encantada em conhecê-lo.
Você já me conhece, é claro.
Só não sabe que sou quando sou eu.
Não sabe dizer que você me sente.
Sabe aquelas vezes que você foi esquecido,
que foi excluído,
desprezado,
injustiçado,
mal-amado,
não-amado.

Sabe todo aquele seu esforço, quando não te rende nada.
Aquele seu sentimento, que não é correspondido.
Aquelas suas palavras que pairam no ar e te sufocam.
Aquela rosa tão linda que você ganhou e te espetou o dedo.
Aquela eterna enxaqueca da vida.
Aquele quero-ir-embora-daqui.

Tudo isso, debaixo do sol ou encoberto pelo eclipse,
quando se parece ter tudo ou quando se finge não ter nada,
quando estar por cima da carniça vira ser a própria carniça,
quando o brilho nos olhos é reflexo da lâmina da faca,
quando a beira do penhasco é tão aconchegante final pra tudo de ruim.

Sou eu.
Todas essas coisas sou eu.
Muito prazer, a Dor.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ninguém Escreve ao Coronel

Às vezes se sente perdido
Debaixo da paletó azul,
do quepe de aviador
e das insígnias prateadas,
ninguém lhe escreve

Ninguém lhe escreve por causa de quem?
Não por causa dos outros,
que ainda se escrevem uns aos outros
Por culpa dele

Foi culpa dele querer a vitória.
Foi culpa de todos a sua volta.
Foi culpa dele ter que conseguir sucesso
às custas da distância e da guerra.

Quem sabe ele tivesse sido um bom jornalista,
professor,
advogado,
poeta.
Mas não foi
Foi tão-somente Coronel
O melhor Coronel, mas somente Coronel

Foi bom Coronel desde que era Cadete
Altivo,
garboso,
elegante,
solitário
Coronel.

E o seu êxito ali o fez esquecer-se daqui.
Daqui onde era amado sem suas platinas.
Daqui onde era querido sem estratégia.
Daqui onde era só ele-mesmo.

O esquecimento dele caiu no esquecimento;
As pessoas continuaram se vendo,
Os carros continuaram passando,
As garotas continuaram beijando os garotos.
mas e o Coronel?
Ninguém escreve ao Coronel.

Conheço Seu Jogo, José

Te vi jogando bola hoje, José
Seu jogo é bom, José
Dá futuro
Melhor!, dá presente.

Seu jogo é rápido, José
Suas pernas são mais rápidas do que compridas
Enganam mais do que fazem
Fingem mais do que são

Seu jogo, José, é forte
Depende do corpo, e pouco da alma
Depende dos olhos, cabelo, roupas e de parecer melhor que os outros
E se molda, como massa de modelar, às tendências
Você nunca fica por fora, José

Seu jogo é tenso, José
Você só joga se for pra ganhar
Só ganha
Sempre ganha
Ganha não de si mesmo, mas dos outros
Ninguém ganha de você, né, José?!

E o melhor (ou pior) de tudo, José
Seu jogo funciona!
Funciona mais que meu xadrez e minhas palavras outonais
Funciona mais que o humor e bem mais que a inteligência
Seu jogo de egos (no qual o seu é sempre mais forte, mais bonito, mais bem penteado e bem vestido) ganha, José
Seu jogo funciona!, José

E o meu, não.

Vi a vida passar por mim hoje

Eu vi a vida passar por mim hoje
Não amargurada
Não triste
Não a minha vida
a Vida

A vida veio de longe
bengala na mão, cabelos brancos, rugas profundas
vinha vestindo uma calça marrom, uma camisa velha e um casaquinho
segurava uma sacola de supermercado contendo as mil-maravilhas ou os sete-pecados, não sei...
E, enquanto eu via a vida vindo, pensei:
"Tenho que falar com a vida! Perguntar-lhe o que a por vir, o que ela já viu..."
Mas não tive coragem

Não tive coragem porque a vida não está aqui pra que a gente pergunte as coisas para ela
A vida não está aqui pra que a gente pergunte
"Do que é feita sua bengala?
Quando você comprou essa roupa?
O que tem nessa sacola?
Você já foi feliz, Dona Vida?"
A vida está aqui pra que a gente viva ela
Somente VIVA

E o pior de tudo:
enquanto pensava o que descrevi,
a vida passou por mim
hoje
ontem
e amanhã.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Se eu pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei"

Fernando Pessoa

domingo, 20 de junho de 2010

Maldito sentimento

"Maldito é este sentimento:
Você não fica em meus braços,
mas não me sai do pensamento."

...ou coroa

"É curioso o fato de eu pensar assim
a gente sempre viveu meio junto
se vendo o tempo todo e nada acontecia
lógico... tem essas diferenças
mas se ele pelo menos olhasse pra mim dessa forma
o curioso é que ele sempre fica por perto quando ele tá por aqui
será que ele... não, deve ser só minha imaginação
não teria cabimento
mas se ele insinuasse alguma coisa
seria tão bom..."

sábado, 12 de junho de 2010

Um a mais, um a menos

Carlos não conseguia ter bichos de estimação. Todos morriam. Sua mãe, D. Lúcia, consciente disso, só comprava bichos pequenos, para que os enterrinhos fossem menos custosos. Ela não ligava muito para os bichinhos, na verdade. Mas Carlos ligava. Roubava facas e afiadores de seu pai, açougueiro, e as transformava em verdadeiros bisturis. Ele gostava mesmo era de vê-los com pânico no olhar, amarrados com fita isolante a um banco de pedra no terreno balido ao lado, enquanto observava os coraçõezinhos dos hamsters e passarinhos dando as últimas batidas depois das incisões cirúrgicas feitas pelo garoto.
João, do bairro ao lado, não saía nunca do quarto. Fazia suas refeições lá, mergulhado em livros rigorosamente limpos e bem-cuidados. Seu quarto lembrava mais uma livraria do que uma biblioteca. Quem entrasse naquele quarto se perguntaria se alguém algum dia lera aquelas enciclopédias, biografias, livros didáticos. Histórias, poemas, romances? Não. Seus quase três mil livros não continham nenhum suspiro de amor, nenhuma lágrima, nenhum abraço. As informações são superiores, dizia o garoto.
Alex, da rua de baixo, mudou várias vezes de escola. As garotas o deduravam às diretoras quando as levantadas de saia, os apertões na bunda e as exibições genitais espontâneas passavam do limite do aceitável. As suas coleções de revistas, vídeos e outros materiais pornográficos invejavam boa parte dos seus amigos e colegas de classe. Aos treze, já havia frequentado muitos dos bordéis da região.
O Colégio Estadual nunca recebera grupo tão estranho. Um dos garotos vinha duma escola normal do bairro e, dizia-se, não era muito afeito a animais. O outro, mais esquisito que o primeiro, ia pela primeira vez à escola: havia sido educado em casa até o fim do 1º grau. O terceiro, um pervertido, havia sido "convidado a se retirar" de mais de quinze escolas durante a vida toda. A diretora pouco se preocupou. Mal-comportados tinham de bando no Colégio. Um a mais, um a menos, dizia a D. Marta, diretora havia 22 anos.
Do outro lado da cidade, três meses depois, coitada, a Srta. Vanessa Rodrgiues da Silva, 23, entrou para as estatísticas de maneira assustadora: estuprada, com a cabeça aberta, o coração arrancado e surpreendentemente limpa. A Polícia declarou o caso fechado depois de seis meses de inconclusivas investigações. Os pais da moça ficaram arrasados. Um a mais, uma menos, dizia D. Marta.

Uma outra noite qualquer

Eu entrei naquela noite, de novo. Devia parar de visitar o "clube", como eles (e elas) chamavam. Meu chapéu-coco demonstrava a diferença do meu status: não possuía dinheiro, não possuía cartola. Minha camisa amarelada e meu casaco sujo não combinavam com o vermelho-dourado-e-brilho do lugar, o que fazia com que eu passasse despercebido pelos olhos empapuçados e bigodes sujos dos industriais. Dos camarotes saiam brados embriagados e risadas altas, falsas, femininas, pagas, contribuindo para o tom alegre de desapego e excitação que pairava entre as fumaças de charuto e os goles de bebida.
Ela estava no palco, a cinta-liga dourada refletindo o brilho dos lustres de cristal. Parecia intocável, inabalável; impossível de existir, até. Impossível de existir por natureza própria: ela existia para os outros, para o prazer dos outros. Sua impossibilidade de existiria ao encontro da minha impossibilidade de tê-la. Eu não podia nem me embebedar naquele lugar. A bebida era cara e meu aluguel já estava atrasado. Atrasado.
Eu estava atrasado na vida dela.. Se eu a tivesse conhecido antes desse mundo, quem sabe o que poderia ter acontecido. Talvez eu passado batido por ela. Talvez eu tenha me apaixonado pela impossibilidade, afinal, se o seu objetivo é impossível, você não precisa tentar, não vai tentar, não consegue tentar.
Saí do "clube" com a chuva negra de Paris sobre meus ombros cansados. Olhei as ricas carruagens que passavam. Olhei minha vida que passava. Voltaria outras noites, outras infinitas noites de admiração e tristeza.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A borboleta de asas amarelas

A felicidade é como uma borboleta de asas amarelas, que só vive vinte e quatro horas.
Você até pode pegar a borboleta, embebê-la em formol, colocá-la num quadro e pendurá-la na parede. Mas não vai haver felicidade nisso.
A felicidade é rápida e fulminante, durando a eternidade do vôo da borboleta de asas amarelas enquanto faz contraste com o céu azul.

domingo, 18 de abril de 2010

Ainda dói

Depois de tudo que fiz, continuo o mesmo.
Meu cabelo continua com o mesmo tom de cinza.
Meu cérebro continua funcionando a toda velocidade.
Meus olhos azuis continuam frios.
E minha perna ainda dói.

Sofri quando ela me deixou,
sofri quando ela morreu.
Sofri quando eles foram embora,
mesmo que tenham continuado por perto
Sofri quando ninguém me quis mais.
E minha perna ainda dói.

Meus amores pertencem a um passado preso ao futuro,
sempre que vão começar eu já sei que acabaram.
Meus amigos pertencem a mim, e mais ninguém,
mas isso até eles me abandonarem.
Minhas mãos tremem de agonia e minha testa se molha de suor,
à noite, sozinho, na cama, no quarto escuro.
E minha perna ainda dói.

Mesmo com uma imagem inteligente,
o conteúdo se degrada a cada negação de mim mesmo.
Mesmo com cada pessoa salva, cada alma pura, cada mentira,
cada choro de agradecimento, cada abraço de amor-pago.
Mesmo com tudo isso,
minha perna ainda dói.

Minha perna ainda dói,
porque as pessoas não mudam.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mesmo que o mundo acabe, enfim.

Eu sei, eu sei. Nós não somos tão amigos assim. Mas já é alguma coisa! A gente já deu tantas risadas juntos. Não entendo... Mas tá bom. Se você não quer, o que eu posso fazer. Eu só queria te pedir algumas coisas.
Um pouco de carinho quando eu estiver triste não me faria mal. Não o carinho que eu quero, porque esse você dispensou, mas o carinho que você quiser me dar. Podem ser dez minutos de toques, sorrisos e piadas. Um carinho bem simples.
Quando eu estiver perdendo a cabeca, por outro lado, saia no mesmo instante. Não quero você por perto vendo meus ataques de raiva, ódio, desamor. Perto de você meus sentimentos têm que ser um só.
Apesar disso, quando minha alegria já estiver alcançada, se aproxime de novo. Nenhuma alegria é completa sem você. São os sorrisos e as piadas de novo.
Vai haver dias em que nada mais vai me incomodar. Pode tá caindo o mundo, o brilho dos seus olhos vai sempre ser mais importante. Se eu estiver assim e você perceber, finge que eu to normal, tá?
Agora só tem uma regra que é mais importante que todas as outras juntas. A de quando eu for embora. Quando eu for embora, você, por favor, só faça um procedimento. Não me esqueça. Apague meus e-mails, rasgue minhas cartas, jogue fora meus presentes. Mas não me esqueça. Por favor, não me esqueça.
_ ,, _ ,, _

Mas quando eu estiver morto,
suplico que não me mate, não, dentro de ti.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Que frio!

Mas que calor!

Calor só existe pra quem quer.

Se não quiser, o calor não existe.

Não sente calor com blusa, calça, casaco

Não sente calor com fogo, coberta e chazinho

Não sente calor com beijo nem abraço nem carinho.

Já o frio, existe sempre que a gente não quer.

Existe por definição.

Existe pra definir a pessoa que não pode sentir calor.

Não pode.

A que pode, não sente frio.

Uma fagulha sempre vibra sozinha no fundo do peito.

De quem pode.

Quem não pode, não liga pra blusa, calça, casaco

Quem não pode, não liga pra fogo, coberta e chazinho

Quem não pode, não liga nem pra beijo nem abraço nem carinho

Não liga pra mim

Não liga pra gente

Não liga

Não sente.

Brrrrr... Que frio!

domingo, 11 de abril de 2010

Vinte pras duas

Trim, trim

- Alo?

- Preciso de você.

- há?! Quem fala?

- Preciso beijar sua boca, sentir seu corpo junto ao meu.

- Ei cara, eu vou chamar a policia!

- Pera ai, Paula. É o Marcos.

- Marcos? Porque você ta me ligando a... uma e quarenta da manhã? E que papo é esse de precisar de mim.

- Eu preciso de você, Paula. Eu to completamente apaixonado por você.

- Há?! Como assim?

- É isso que você ouviu mesmo. Eu te amo, Paula.

- Mas, perai! De repente assim? Porque você não me falou nada?

- De repente, não. Já faz seis meses que eu gosto de você. O meu sentimento só vem aumentando. Só não te falei nada porque sou muito envergonhado na sua frente.

- E porque você resolveu me contar a essa hora assim?

- Porque eu não conseguia dormir. Eu só consigo pensar em você, ate dormir ta ficando difícil.

- Mas e agora? Que que acontece agora?

- Eu que te pergunto. Você gostaria de ficar comigo?

- Como assim, Marcos? Você me liga no meio da noite e me vem com “eu te amo” e “fica comigo”!! Me deixa pensar um pouco.

- ...

- Marcos?

- Já pensou?

- Ah! Não é assim! Eu preciso de tempo.

- Por que tempo? Tem algo que possa atrapalhar?

- Tem, ué! Você deve saber, eu gosto do Cadu...

- Mas ele gosta de você?

- Não, mas eu to tentando conseguir ele.

- E eu to tentando te conseguir.

- Eu sei, Marcos. Mas não é de você que eu gosto.

- Mas você poderia tentar.

- Mas tem o Cadu

-Você gosta mesmo do Cadu?

- Acho que sim... ele é bonito, popular... e imagina o que minhas amigas vão falar?! Num dia eu quero ele, no outro inesperadamente eu to com você.

- Elas iam falar que somos um casal feliz.

- Eu preciso de tempo pra pensar. Amanhã eu te ligo.

- Que horas?

- Uma e quarenta da manhã. Vai ser a minha vez de te declarar amor incondicional de forma inesperada.

terça-feira, 30 de março de 2010

Platão (2)

é um amor (se é que eu posso chamar de amor) tão idealizado que o corpo passa batido.
meu interesse é na alma.

Choro

Choro só é bom quando alivia
Choro de arrependimento não é bom
choro de desespero não é bom
choro sozinho no quarto à noite não é bom
choro sozinho no quarto de manhã (depois de ter acordado e meu sonho com você ter se esvaido como vapor) não é bom
Choro bom é choro de saudade
choro bom é choro porque o que foi bom já acabou
choro bom é choro de alívio
Alivia a alma lembrar que já houve um passado bom
mas, já que não houve, eu choro.

Medo

Tenho medo de você
Não do que você pode me fazer
do que eu mesmo posso me fazer por você
medo de contar e você fugir
medo de contar e ver outra reação no seu rosto
(diferente daquela no meu sonho)---------^
medo de perder você
(mesmo que eu nunca tenha tido você)
medo de você mudar nossa relação
(pequena e alegre)------^
esse é o meu medo. MEU medo.
de mim eu tenho muito mais medo do que de você.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vermelho

"Porque antes eu tinha uma alma mansa, um sorriso pouco, uma esperança diminuta, uns olhos opacos.
E então tu apareceste com todas tuas mil cores, teus gestos bonitos, tua paz, teus beijos enlouquecidos, teus lábios ansiosos, teu corpo em brasa, tua delicadeza, tuas delícias, tua forma de amar.
E o meu planeta passou a ter umas pinceladas vermelhas e começou a se chamar "Amor"."

Natália Anson Lima - Persona Non Grata

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sonho

Num sonho bom, tudo pode acontecer
Beijos, abraços, carinhos, sorrisos
Ah!, dura realidade que me mata
que me faz pedir mais cinco minutinhos
não cinco minutinhos de sono, de descanso
cinco minutinhos de sonho
cinco minutinhos de você-ao-meu-lado
Ah!, dura realidade que me mata
Realidade sonhada pede sonho realista
com diálogo, com pensamento
pede sonho-filme, com começo-meio-e-fim
pede que aquele momento, sentado do seu lado
seja rebobinado e termine com um beijo
na frente de todo mundo
em sonho, não tenho vergonha

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sabe porque eu estou sem escrever?

"Quando estiver com tudo
Lã, cetim, veludo
Espada e escudo
Sua consciência
Adormecerá!"

Nando Reis - Mantra

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Regra Nº1

"- E não se esqueça, Charlie, do que aconteceu com o homem que de repente conseguiu tudo o que sempre quis.
- O que aconteceu?
- Ele foi feliz para sempre."

- Willy Wonka -

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O que vai ficar na fotografia

"São os laços invisíveis que havia;
as cores, figuras, motivos;
o sol passando sobre os amigos;
histórias, bebidas, sorrisos;
apenas lembranças."

PS.: Tá, eu confesso: tirei de uma comunidade do orkut.
PS.2: Minha irmã falou que é uma música do Leoni.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Por Detrás das Cortinas

"Outro dia eu sonhei com você.
Não me lembro de muita coisa.
Te dei um beijo de boa sorte.
Pra mim valeu por uma semana."

Wish You Were Here

"Eu queria muito que você estivesse aqui.
Enquanto você esteve tudo correu bem.
Mas você se foi.

E o pior foi que eu tive que ver você indo embora aos poucos.
Sofrendo.
No final de tudo, eu acho, você não conseguia mais distinguir o inferno do Paraíso, ou os céus azuis da sua própria DOR.
Eu queria que você estivesse aqui.

Não saberia dizer o que você sentiu durante o seu último e breve suspiro.
Talvez todos os seus velhos medos, que te rodeavam naquele mesmo velho caminho, tenham se esvaido.
Talvez toda a sua felicidade esquecida por causa da febre tenha inundado de amarelo-e-azul sua cabeça, tão confusa.
Talvez as velhas lembranças tenham ressoado como um rádio fora de sintonia até quase-o-final, quando elas tiraram suas capas e te fizeram sentir bem pelo resto do tudo-nada, o ínfimo intervalo final da sua vida.
Eu queria que você estivesse aqui.

Eu espero que todas as sua preces que eu me recusava a acompanhar tenham se tornado verdade, e que, por causa delas, agora você esteja bem.
Eu espero que o seu fim tenha sido como o descanso depois de um dia muito agitado, como o sono que a gente não vê a hora que chegue mas não percebe quando ele chega.
Espero também que sua última imagem tenha sido a minha cara, mas não a minha última cara, de dor; a minha cara feliz, com você, no alto da roda-gigante à noite, não sabendo o que me deslumbrava mais, se era a beleza da cidade noturna, a beleza do seu rosto ou a mistura de tudo.
Eu queria que você estivesse aqui.

Sinto tanta saudade que às vezes ainda olho pra nossa foto, como se a sua cara fosse você em carne-e-osso.
Sinto tanto a sua falta que sonho com nossos momentos como se eles estivessem realmente ocorrendo, como se ao acordar eu pudesse revivê-los, como se eles não fossem apenas brinquedos jogados no fundo do baú que é a minha memória.
Eu queria que você estivesse aqui.

Eu queria que você estivesse aqui."

PS: Obrigado, Roger Waters, pela inspiração.