segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Menos Pior

     Vi-me nessa semana com um periódico de uma facção da juventude esquerdista de um partido trotskista. Evito mencionar qual. Independentemente da beleza do idealismo socialista-trotskista, com a IV Internacional e a internacionalização do governo popular, operário e proletário, me pareceu, a princípio, somente infantil e idealista mesmo. Minha leitura seguiu e minha tranquilidade rapidamente desapareceu. Explico por que.
     A crítica que me tomou de sopetão foi especificamente a crítica ao Governo Obama nos EUA, dos anos 2009 a 2012. O Governo Obama foi um governo estadunidense invasivo e com políticas internacionais intervencionistas? Foi, sem dúvidas. Cometeu crimes internacionais e contra a humanidade? Cometeu. Defende os interesses da burguesia capitalista e dos banqueiros bilionários que quebram bancos de outros países? Defende. Até aí, concordo, é um governo bizarro, antidemocrático, antirrepublicano e terrorista.
     O problema na crítica foi exatamente no ponto em que se discutiu a sucessão presidencial que será votada nesse ano, para assunção em 2013. O Democrata Obama concorre contra o Republicano Romney. Dentro desse sistema bipartidário, vejamos os candidatos: Obama defende a continuação do seu programa de assistência médica universal (o primeiro da história dos EUA), o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a diminuição das tropas no Afeganistão, o aumento de políticas de assistência social e os direitos das mulheres de autodeterminarem o futuro de seus corpos; Romney defende que "corporations are people", que abortos em caso de estupro não são totalmente legítimos, que os grandes bancos devem poder continuar suas políticas de exploração da população e que "x americanx de verdade sobe na vida sem a ajuda do governo" (a nojenta e já bem conhecida doutrina do selfmade man). Dentre os dois, um advogado havaiano negro e um mórmon dono de empresas multibilionário, minha escolha é óbvia. A do partido ao qual me referia, não.
     Esse é o ponto. O partido não aceita a ideia de que haja apoio ao Presidente Obama em sua reeleição. Seus argumentos sustentam-se numa crítica a um propagador do capitalismo, crítica que é absolutamente válida, sim!, mas é irreal tomada a situação política estadunidense atual. Umx candidatx operárix, de esquerda, pró-povo seria rechaçadx pela grande maioria votante nos EUA, isso se não fosse assassinadx. E nesse caso, sou a favor da política do "Menos Pior". Sou sim, e explicarei o porquê.


Situação política atual dos Estados Unidos

     Sou um legalista. Um estadista. Um republicano. Um democrata. Um socialista (na minha acepção do termo). Portanto, gosto muito de eleições. Gosto mesmo. Acho que o método democrático da eleição para escolher representantes é muito adequado para uma república ocidental do século XXI. E nas eleições, os candidatos não estão em pé de igualdade: os menores partidos vão sim ser suplantados e sobrepostos por seus adversários mais poderosos. O que não é nada de espantoso. Eu prefiro muito mais esse método, seguro, confiável, democrático e estável, do que outros que possam trazer instabilidade à República, na forma de revoluções sangrentas e despropositadas (vejam que também sou um pacifista). O precedente soviético de revolução ainda me assusta, sim, admito.
     "Ah, mas então você não é socialista, não quer que o socialismo vença o capitalismo?" Quero sim. Não é essa a questão. A questão é que eu não acho que boicote às eleições, apoio a candidatxs que não podem fazer nada, ativismo político de final-de-semana e imposição de certas leituras sobre o mundo a outras pessoas sejam os melhores métodos para atingir o socialismo. Acho que o melhor método para atingir o socialismo é votarmos numx socialista. Ou se não pudermos, numx social-democrata. Ou se não pudermos, numx capitalista mais preocupadx com questões sociais.
     Uma coisa eu vejo, camaradas. É que um fantasma assombra a Europa. E as Américas, e a Ásia, e a África, e a Oceania e todo o mundo: o fantasma (não do comunismo, mas) do povo. O povo pode sim ser uma massa agente da história. Basta que votem. E votem sim no menos pior, se ele tiver chances de vitória. Seria bastante idealista e bacana votar no Mané Marx, com sua dialética materialista prometendo acabar com a desigualdade social, mas o Mané não tem chances de vencer. Então, que pena, Mané, você não tem meu voto. Eu vou votar no menos pior que puder vencer, sim!
     Porque, um dia, eu espero, o menos pior será de fato o melhor candidato.

domingo, 9 de setembro de 2012

O Homem está sofrendo

    No outro dia, quando liguei a televisão, vi, estarrecido, um homem sofrendo. O homem urrava de dor, contorcia-se, pulava, chutava e socava a torto e a direito, quem estivesse por perto. O homem estava jogado, com cordas amarradas por seu corpo todo, no meio de uma arena. Uma queimadura ainda fumegante ardia em suas costas. Ele estava visivelmente agonizando. Mas a multidão não estava gritando pedidos de socorro ao pobre homem; igualmente, não pedia a soltura daquelas amarras ou mesmo que lhe dessem água para apaziguar sua queimadura ou roupas para cobrir sua nudez.
    A multidão, impiedosamente, saudava, não o homem, mas o caubói.

O Jardim

E o jardim
o jardim sou eu
planto e colho
o jardim sou eu
mandei plantar minha mente n
o jardim (que) sou eu
e o que me nasce
é pura poesiarte
porque as flores nascem no jardim
e o jardim sou eu