sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma Frase

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."
Jean Cocteau

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Fuga ou A Volta

" Eu ainda não sei porque fugi. Só sei que o fiz. A culpa não é bem dela, apesar de, amanhã de manhã, ela se culpar, porque eu não deixei carta, dinheiro, explicação... Deixei minhas roupas, meu creme de barbear, meu tablete de chocolate-ao-leite, isso nós compramos juntos. Mas eu peguei minha consciência, minha saudade, minhas lembranças, que eu havia guardado fundo na memória, como se doesse.

Ainda não sei pra onde vou. Não sei nem porque eu estava onde estava. Foi a faculdade, talvez. Direito é uma escolha meio esquisita. Ainda mais pra mim, sempre adorei filosofia. Acho que me deixei levar. Ela, eu encontrei num barzinho, na época de faculdade ainda. Fazia Administração. Depois de nós dois formados, nossa vida junta era separada. Ela ia pro escritório dela, eu pro meu. A gente ficava junto só a noite. E foi numa noite que eu fugi.

Continuo sem saber pra onde vou. Parece que eu acordei de um sonho de plástico. Será que eu procuro a minha turma antiga? Acho que não... nem fui no encontro de cinco anos de formado. Nem no de dez. Mas era com eles que eu era feliz. Não sei bem em que pedaço do meu caminho eu me perdi. Acho que foi quando me mudei pro Rio. Todo mundo continuava em São Paulo. Era difícil o reencontro.

Não sei se eu procuro minha família. Preciso saber como andam meu pai e minha mãe. Já faz três anos que eu não apareço nem pro Natal. Eu acho que eu vou pra lá. Preciso limpar a mente. Eles ainda moram lá, meu quarto deve estar vazio. Vou dar uma passada, conversar, quem sabe eu não fico lá até passar esse meu "negócio". Talvez não passe. Talvez essa seja a minha vida de verdade.

Preciso da minha vida de volta."

Um Pouco de Chico Buarque no Meio do Meu Almoço

"E aqui estou eu, escrevendo pra você.
Você, que pelas costas eu chamo de "meu amor".
Você, que eu olho quando você não está me olhando, só pra te admirar.
Você, cujas frases eu perco, porque prefiro apreciar o brilho dos seus olhos.
Você, que nunca pensou (ou vai pensar) em mim como eu (só) penso em você.
Você, que me rende sonhos, diálogos, felicidades, beijos... todos imaginários, na escuridão do meu quarto a noite.
Você, que se ler essa carta (apesar do fato de que eu não vou mandar), não vai saber que é pra você.
Você, por quem eu sinto um querer, que, de tão puro, não permite que a lascívia se torne vulgar.
Você, que me tira o fôlego, quando olha pra mim.
E aqui estou eu, escrevi para você."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo

"Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se

A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores."

O Teatro Mágico

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Arrepio

"E se você me quisesse
E se você me beijasse
E se você me abraçasse
E se você me sorrisse
E se você me olhasse
E se você, ao menos, me considerasse
E se você me amasse
Ah!, se você me amasse
Ah..., se você soubesse..."

Ensaio sobre o amor, sobre nós dois

"Eu bem sei que a tua vida agora está meio corrida, assim como a minha, mas não posso deixar de te lembrar o quanto te amo.
Eu também sei que a maioria das pessoas se perdem em momentos assim.
Entretanto nós dois, querida, sempre nos encontramos.
Porque há de sempre ocorrer um carinho telepático,
um e-mail de "euteamoprasempreecadavezmaisamordaminhavida",
um sorriso,
um gesto,
um beijo roubado...
para nos salvar.
Escritos em cartas dentro de caixas douradas. Ficam lá guardados os hinos que cantam o nosso amor.
És a moça da minha vida.
Sou o moço que te fará feliz (prometo...).
Porque amor também é ser companheiro.
E, às vezes, alguns esquecem disso.
O amor é cultivado em todos os momentos.
Intangível é o amor que os outros querem. Com perfeccionismo, exibicionismo, posses, ranhaduras da dura realidade.
Possível é esse amor, o mais bonito de todos, que nos une... que é o lugar mais quente e doce do mundo inteiro.
Enquanto a maioria das pessoas se perdem,
eu sempre acabo te encontrando dentro do meu coração."

Natália A. Lima - Persona Non Grata - http://taiagarridoii.blogspot.com/

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Autorretrato

"Simpático, solitário, inteligente,
autodidata, pensador, elitista.
Mais superego que id,
como diria Freud.
Gêmeos no famigerado horóscopo.
Possuo o sangue frio, calculista.
Sei mais de mim que qualquer outro.
Sou decepcionado com minha geração.
As aparências não importam.
Eu não vou mudar
Eu vou ficar são
Mesmo que só, não vou ceder.
O mal vai ter fim."

PS: Estou tentando ceder... mas é difícil...

"E Não Interessa O Que Os Outros Vão Pensar..."

"Moldam a nossa felicidade.
Consideram o objetivo mais importante que ela.
A chegada mais importante que o caminho.
O fim justifica o injustificável meio.
Aflição e tristeza.
Saudosismo que me sustenta a alma,
misturado ao medo de esquecer (e ser esquecido).
Não é isso que eu quero.
Não é essa a minha vida.
I don't belong here."

Platão ou O Sol na Noite Eterna

"Manuel, não dou bandeira.
Sentado na janela da Casa Verde,
Bacamarte sem D. Evarista.
Como um Samsa da geração,
Como um pesadelo numa noite de inverno
Sem os deuses para alguém, por mim, se apaixonar.

O raio de sol, entretanto,
Traz calor até através do vidro.
Não vale a pena entristecer-se
Por não ter o Sol diretamente em sua pele."

Ato V, Cena II

"A meus pais, as desculpas;
A meus amigos, as boas lembranças;
A minha covardia, o adeus;
A minha coragem, o adeus também;
A meus amores, os sonhos nunca concretizados;
A meus professores de toda a vida, meus agradecimentos;
A minha dor, o fim;
Ao resto, o silêncio."

PS: Quem me dera o entorpecimento da consciência, dos sonhos, dos desejos, da dor...

O Começo

"O começo é a parte mais difícil do trabalho"
- Platão, República, livro I, 377-B.

E, no princípio, era o Verbo.

Comecemos.