domingo, 28 de novembro de 2010

Um Filho e um Cachorro

"Já tenho um filho e um cachorro
Me sinto como num comercial de margarina
Sou mais feliz do que os felizes
Sob as marquises me protejo do temporal

Oh meu amor me espere
Que eu volto pro jantar
Ainda tenho fome

Eu vejo tudo claramente
Com os meus óculos de grau
Loucura é quase santidade
E o bem também pode ser mal

Engrosso o coro dos contentes
E me contento em ser banal
Loucura é quase santidade
E o bem, meu bem, pode ser mal"

Zeca Baleiro

Solução

Poderia encerrar esse blog. A chave dos meus problemas é a diferença. O mundo que não suporta as diferenças e divide os diferentes em castas inalteráveis.
Acontece que eu sou diferente. Isso não só causa dor. Causa uma superioridade machucada. Sou diferente, estou em cima, mas queria ser igual e estar embaixo. O problema do mistério não é a sua solução, mas como colocá-la em prática.

Meu reino por um amor

E me adianta tudo o que tenho?
Bronze, prata, ouro, glória;
mente, corpo, memória?

Me adianta, amor, ter o mundo?
Ter os pés no chão e a cabeça centrada
ter tudo que todos querem
todos menos eu

- Meu reino por um cavalo!, disse Ricardo -
meu reino, minha mente, minha vida
por um amor

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bang, Bang, You're Dead

[cortinas abrem]
(primeiro personagem entra)
sou eu que aqui apareço
ou sou ator, prego a mentira e a beleza contida nela?

(segundo personagem entra)
mas esse pensamento é muito egoísta
quem sou eu, perto do mundo, pra ter o direito de ser egoísta?

(primeiro personagem)
me perco em profusões de pensamentos existencialistas
porque essa é minha vida?

(segundo personagem)
essa é a pergunta de quase todo mundo

(primeiro personagem)
Eu me sinto como se estivesse imitando sempre
mas como se essa imitação me fizesse sentir eu mesmo

(segundo personagem)
Você está perdido, está fora do controle, está cansado o bastante pra pedir pra sua alma descansar para sempre

(primeiro personagem)
Quem vai salvar me alma agora?
Quem vai contar minha história agora?

(segundo personagem)
Você já tentou tudo, menos o suicídio

(primeiro personagem)
mas já passou pela minha cabeça
e eu ainda não sei a resposta, estou apenas chutando
e olhando na direção da arma

(segundo e primeiro personagens)
"O resto é silêncio."

[Som de tiro]
[cortinas fecham]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Resposta

Refletindo, descobri uma coisa sobre mim. Descobri, acho, o objetivo desse blog. Acho que é um jeito de eu me expressar e me libertar das amarras que a minha vida, objetiva e real, mas presa, me impõe.
Mas ele serve, também, para outra coisa. Acho que eu queria mesmo era uma resposta dela. Os versos e frases, as estrofes e parágrafos, clamam desesperadamente por uma resposta. Criptografo tudo pra que meu "eu" se resguarde. Mas o que eu quero mesmo é que todos percebam. E me deem uma resposta.

(Linda) Realidade (Pouco) Objetiva

Às vezes me questiono sobre a objetividade da realidade
Einstein, quando formulou a Teoria da Relatividade, analisou os observadores
Para ele, a realidade é relativa ao observador
E por isso, eu acho, que eu sempre te vejo nas coisas mais lindas do meu dia
as coisas lindas não são lindas por elas mesmas
as coisas lindas são mais lindas
porque você está onde você está
e hoje você está nas coisas mais lindas

Desejos

Curiosos esses meus desejos sobre o tempo
nos dias em que te vejo, quero que ele demore uma eternidade
nos dias em que não te vejo, quero que ele passe como um raio

Amizade

No cenário enfumaçado de um sonho adolescente
All-star's sujos nos pés já cansados
os jeans batidos de propósito, ainda na fábrica
todos jogados nos sofás da vida
abraços intermináveis e uns beijos aqui e ali
- a gente se conhece, qual é o problema? -
se conhecem melhor que qualquer outra coisa
há uns três-quatro anos era coca-cola, agora é cerveja
ainda ligam o videogame quando estão entediados
jogam baralho, e agora tem fichas de poker
nem dizem mais o nome pro porteiro
- opa!, vou ali no 22, beleza? -
sabem dos desesperos mais profundos uns dos outros
assim como sabem cada podre de cada um
mas isso nem importa muito
o que realmente importa é se reunir e fazer com que essa energia
vinda não se sabe de onde, nem quando
(sempre andaram juntos, como não perceberam o tempo passar por eles?)
flua e faça com que cada momento seja inesquecivelmente efêmero...

À noite, as dores se acentuam

"Quando o sol se põe e do horizonte vem se estendendo a noite, alguma mudança se opera dentro da gente.
Aquelas dores que durante o dia ficaram quietinhas, quase esquecidas, vêm, lentamente,tomando seu lugar na nossa consciência.
Então nos tomam as dores de amor, as nossas saudades... As dores dos sonhos não realizados, das mágoas antigas, das desculpas que não pedimos ou que não ouvimos jamais. As dores das loucuras que não fizemos, das paixões que findaram prematuras, dos amores que por algum motivo não confessamos.
Até mesmo as dores físicas dóem mais à noite. É à noite que a febre aumenta. E os pesadelos nos atormentam.
À noite nos compadecemos dos que sentem fome, dos que têm frio, dos que estão imersos na solidão...
À noite, as dores do mundo nos pesam sobre as costas...
E talvez por ser o reduto do despertar de sentimentos que durante o dia permaneceram velados, ela seja tão instigante, tão envolvente. E mesmo doída, continue sendo o momento mais esperado entre o despertar e o adormecer."

PS.: Não é meu o texto, peguei de uma comunidade do orkut.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Férias

Eu queria mesmo era tirar férias
um mês de férias
férias da vida

sábado, 20 de novembro de 2010

Tóxica

Eu estava quase conseguindo me livrar de você. Mas aí você voltou pra dentro da minha vida. Voltou em verde-limão com caveirinhas. Me colocou aos seus joelhos. O curioso é que parece que vai me fazer mal, mas eu não consigo tirar os olhos.
Quase como um gole num drinque do diabo, o próprio. Mas já é tarde demais. Um pouco mais a abstinência já teria passado e eu seria livre. Mas a visão (só a visão!) dos seus lábios me joga numa viagem tresloucada. Sou viciado em você. Você não sabia? Você é tóxica.

Platão [3]

Eu sei que algumas coisas na minha vida são quase imutáveis. Eu minto pra mim mesmo quando a verdade me domina. Como se eu só tivesse uma alça pra me agarrar.
Mas eu criei uma imagem, uma forma universal que pode ser mais forte do que eu mesmo. Quem sabe?!
Se essa forma prevalecer sobre minha teimosia e orgulho absurdos, além do meu medo, aí sim. Aí eu terei minha única exceção.

Indivíduo Escatológico

E a minha vontade agora era de escrever algo escatológico. Acho que pra mostrar aos outros que tenho corpo, talvez. Que não sou só alma-essência de mim mesmo. Que não me limito às ideias que defendo tão arduamente quanto as abandono no momento em que as descubro falsas. Falsas!, não boas ou ruins, lembremos sempre.
Algo que envolvesse sangue e catarro, cortes a faca de carne e frieza de atitude. Quase um anti-eu. Um corpo sem mente. Sem individualidade. Massa de manobra, carne moída gritando que não quer mais educação, nem sarcasmo nas salas-de-aula.
Normalmente não escrevo reflexões em prosa e prefiro metaforizá-las em patos ou poesias abstratas. Mas hoje não. Hoje quis dizer quem sou com todas as palavras. É como se normalmente eu escrevesse as coisas para um seleto grupo que fosse me entender. Mas, repito, hoje não. Hoje sou eu com todo o meu vocábulo explícito, sem-vergonha. Acho que a escatologia de hoje está nisso aí: dizer quem eu sou pode ser nojento para a maioria das pessoas.

PS.: Outro dia tive um sonho. Sonhei que gritava verdades para que todos pudessem ouvir. Ao acordar me senti mal. Ninguém se interessa pela verdade.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Rapsódia (Boêmia) da Lagoa

Era uma vez um patinho
patinho normal
de aparência normal
o patinho, entretanto, não sentia como os outros patinhos
o patinho sentia o contrário dos outros patinhos

E a dor do patinho era grande
"Dona Pata não vai me aceitar"
o patinho partiu para uma atitude drástica
e a dor do patinho, depois de tudo,
cicatrizou

O patinho depois foi encontrando outros patinhos como ele
e as noites secretas o levavam aos cantos mais escondidos da lagoa
onde se podia ser como se sentisse, sem estigmas
mas a sombra de não ser como os outros ainda o encobria
porque ele ainda não via sua diferença como boa

Mas ele ainda vai ver que o bom é ser diferente
e os iguais é que estão errados de somente ter a si próprios como certos