sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Copacabana

É curiosa a brasileiridade que desperta uma vinda à praia.
com cerveja aos cântaros
areia na sunga, areia no camarãozinho
mar sujo em que todos se banham
fios-dentais sustentam grandes bundas bronzeadas
gringos bobos sendo roubados nos quiosques
o meu coração fica até com jeito de bem-me-quer
e as gordinhas realmente são um alvoroço

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Todo carnaval tem seu fim

viviam a teatrar no carnaval
os nomes não se lhes importam
teatravam na imensidão dos carnavais através dos séculos
desde Veneza teatravam
só teatro?
não
esse era o problema
que por trás das máscaras triste e feliz,
por trás dos nomes Pierrot, Arlequin e Colombina,
jaziam paixão, culpa, amizade, felicidade, tristeza e
uma infinitude de outros sentimentos
em suma
o Arlequin sorri,
a Colombina ama,
e o Pierrot chora.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Obituário

Morreu nesta quinta-feira, 23 de dezembro de 2010, o operário José Francisco das Neves, 42, trabalhador da Souza&Gama Empreendimentos. O senhor José era trabalhador da empresa há 15 anos e fazia todo tipo de obra de construção imobiliária. Era tido como um dos melhores funcionários, de comportamento exemplar. Ontem, entretanto, o senhor José saiu de sua casa no bairro do Grajaú, onde mora com a esposa e os três filhos, e dirigiu-se à obra em que estava trabalhando, na Avenida Ibirapuera, nº1991.
O trabalhador havia trabalhado a manhã toda e, na pausa de almoço, sentou-se com seus colegas no andaime do 22º andar para comer. O operário Severino Monteiro, 28, amigo do senhor José, havia tido seu segundo filho e, para comemorar, levara um pouco de cachaça 51, comprada no boteco ao lado da construção. Após algumas doses da bebida, os funcionários já estavam embriagados e começaram a dançar no andaime.
O senhor José caiu da construção e morreu ao atingir o solo, no meio da avenida. A Companhia de Engenharia de Tráfego - CET imediatamente tomou o controle da situação e interditou uma das faixas da pista da avenida. Houve uma única testemunha, um pedestre que passava, C.B.H., que pediu para não ter seu nome divulgado. A empresa se responsabilizou pelo acidente e a família receberá todos os direitos trabalhistas referentes ao falecido senhor José, além de terem recebido um convite especial do responsável pela obra para irem a um concerto de metais na Sala São Paulo hoje, na noite de Natal.

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"Amou daquela vez como se fosse a última [...]"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Não me encaixo.
E é só isso.

Realidade [2]

Bem poderia eu viver a realidade. Aquela, de todo mundo. Não a minha. É quase como se a realidade fosse relativa ao observador. Quem sabe não é...
Talvez, com a realidade, eu vivesse melhor. Como se minha vida até o momento fosse tão conceitual que me induzisse a uma não-humanidade.
Talvez seja por isso o let me out of here cantado em backing vocal e quase imperceptível. Talvez eu queira me desconfinar da prisão que me é o meu próprio EU. Talvez por isso os sangrentos desejos de morte. Minha morte. "Morre o homem e nasce o super-homem", diria Nietzsche. Acho que não. Eu quero é matar o meu super-homem. Como disse antes, essa não-humanidade me aflige.
Talvez a minha felicidade seja mesmo isso. O governo não falar por mim e eu ter uma vida quieta. Um aperto de mão de monóxido de carbono.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu só aceito com uma condição

- Eu te falei, não te falei? Falei que ia dar tudo errado. Você não me ouve. Nunca me ouve. Me fere os sentimentos. Viva como eu te digo; qual é o problema?
- O meu problema é que eu sou eu, e não sou você. Se eu fosse você, viveria a sua vida.
- Mas você sabe que pode dar errado se não fizer como eu te disse...
- Você dizer não vai me tirar a responsabilidade de tocar minha própria vida.
- Tá bom, então. Mas eu só aceito com uma condição.
- Qual?
- Te ter só pra mim.
A filha abre a boca, mas a mãe fala antes dela:
- Eu sei que não é assim, mas deixa eu fingir. E rir.

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"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te
Ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vivo

Me parece ridículo, mas...
só escrevo o que sinto
e só sinto o que vivo
e só vivo
simplesmente vivo

Explícito

- Eu preciso te dizer uma coisa. Eu sei que pode soar estranho, é por isso que eu te trouxe aqui pro canto sem ninguém perceber. O fato é que eu gosto de você. É. Simples assim.

E a partir daquele ponto, o garoto divagara infinitamente à noite, em sua cama, porque sabia que qualquer resposta que ele colocasse na boca dela tinha uma possibilidade de existência, mas também sabia que sua impotência em prever o futuro não o ajudaria a saber o que ela falaria e essa dúvida o levava a uma angústia incrível.
E a garota? Nem se importava e vivia sua vida normalmente.

Algumas imagens assombram a minha mente

Queria eu ter esse toque suave
esses sorrisos (para mim)
recheados de terceiras intenções
esses dedos nos meus
a alegria de estar comigo
...

O momento do tiro

Despetale as flores de sua vida
Rasgue sua própria carne e pele com suas unhas roídas
Fira seus próprios olhos com as imagens que te assombram

Morre, infeliz!, como se nunca tivesse vivido,
porque o morto que já viveu teve história pra contar.

VOCÊ NÃO!
Não tem história, queridinho, não teve amor na sua vida.
Foi capa de estopa, saco vazio que não parava em pé.

Era feliz, era?
Era nada, que inteligência é quase antônimo de felicidade.

Sofre, pobre diabo, porque...
porque...
porque sim, ué.
Quem mandou nascer? O viver é sofrimento.
Sofre! Não tem direito a uma vida feliz, não...
quem te disse isso?

Deixa que eu te olho
e te vejo sorrir

no momento do tiro