sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ninguém Escreve ao Coronel

Às vezes se sente perdido
Debaixo da paletó azul,
do quepe de aviador
e das insígnias prateadas,
ninguém lhe escreve

Ninguém lhe escreve por causa de quem?
Não por causa dos outros,
que ainda se escrevem uns aos outros
Por culpa dele

Foi culpa dele querer a vitória.
Foi culpa de todos a sua volta.
Foi culpa dele ter que conseguir sucesso
às custas da distância e da guerra.

Quem sabe ele tivesse sido um bom jornalista,
professor,
advogado,
poeta.
Mas não foi
Foi tão-somente Coronel
O melhor Coronel, mas somente Coronel

Foi bom Coronel desde que era Cadete
Altivo,
garboso,
elegante,
solitário
Coronel.

E o seu êxito ali o fez esquecer-se daqui.
Daqui onde era amado sem suas platinas.
Daqui onde era querido sem estratégia.
Daqui onde era só ele-mesmo.

O esquecimento dele caiu no esquecimento;
As pessoas continuaram se vendo,
Os carros continuaram passando,
As garotas continuaram beijando os garotos.
mas e o Coronel?
Ninguém escreve ao Coronel.

2 comentários: