domingo, 19 de junho de 2011

Garoto-de-Aço

Era uma vez um garoto. Nasceu no final do outono, quase inverno. Uma tarde chuvosa, chorosa. Foi para casa enrolado em cobertas. Sua infância não houve. Por causa de sua saúde, sentou em sua cama e leu. Somente leu. E como um sapato novo, não amaciou seu couro nas bolinhas de gude ou nas peladas da rua. Tornou-se, assim, aço.
Era o próprio homem-de-aço. Toda e qualquer crítica ricocheteava em sua brilhante armadura, da qual se orgulhava muito. E com o tempo foi reforçando sua armadura, tornando-se um robô. Até que um dia
conheceu uma pessoa muito interessante. O garoto-robô-de-aço quis pegar a pessoa e exibi-la como um troféu para os outros. "Eu consigo. Eu amo. Sou humano.". Só não reparava numa coisa: sua pessoa-troféu não tinha armadura-de-aço e estava recebendo todos os machucados dos odiadores do robô-de-aço.
A pessoa-troféu encheu-se. Desceu dos braços do robô-estátua-de-aço e foi-se embora, deixando-o sozinho. Parado. Não havia Dorothy que pudesse achar um coração atrás daquela armadura-de-aço. E a armadura finalmente pesou sobre os ombros do garoto dentro dela, que chorou, chorou e chorou. O garoto reparou que as armas de sua armadura machucavam as pessoas à sua volta.
E, lá no fundo, bateu seu coração a primeira batida. Uma batida verdadeira, e não aquela que ele havia programado para bater quando estava com a pessoa-troféu. A batida verdadeira ainda era pela pessoa-troféu, que não era mais troféu e era, para ele, totalmente pessoa. E estátua-de-aço, parada em seu pedestal de admiração, começou a despir sua armadura.

Um comentário:

  1. Olá amor,

    Hoje tive vendo umas fotos suas...Você foi uma criança feliz, com ideias e vivências espetaculares e intensas. Um guloso pela vida! E hoje um homem de bem! Me orgulho de você.
    Eu te amo!!!

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